Os outros
Dizes trazer o deserto no coração; entretanto, pensa nos outros.
Muitos pisam teus rastros, procurando-te as mãos no grande
vazio...
Pára um pouco e perceberá a presença nas sombras da retaguarda.
Enquanto gritas a própria solidão, compreenderás que a voz
deles está morrendo na garganta, através de longos gemidos.
Volta-te e vê.
Compara os teus braços robustos com os ossos descarnados
que ainda lhe servem de suporte às mãos tristes em que os dedos
mirrados são espinhos de dor. Enxuga o teu pranto e observa os
olhos fatigados que te contemplam... Falam-te a história de esperanças
e sonhos que o tempo soterrou na areia da frustração. Referem-
se ao frio cortante do lar perdido e à agonia da ramagem nas
trevas...
Pára e compadece-te.
Deixa que respirem, ainda mesmo por um momento só, no calor
de teu hálito.
Quem poderá medir a extensão da grandeza de uma simples
semente, caída na terra que o arado martirizou?
A beleza de um minuto nos ensina, muita vez, a povoar de alegria
e de luz a existência inteira.
Diz antiga lenda que uma gota de chuva caiu sobre o oceano
que a tormenta encapelara e, aflita, perguntou:
Francisco Cândido Xavier / Waldo Vieira – O Espírito da Verdade
– ”Deus de Bondade, que farei, sozinha, neste abismo estarrecedor?”
O Pai não lhe respondeu, mas, tempos depois, a gota singela
era retirada do mar, convertida numa pérola para adornar a coroa
de um rei.
Dá também algo de ti aos que bracejam no torvelinho do sofrimento,
e, mesmo que possas ofertar apenas um pingo de amor
aos que padecem, tua dádiva será filtrada pelas correntes da angústia
humana e subirá, cristalina e luminescente, na direção dos céus,
para enfeitar a glória de Deus.
Meimei
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